Taxas de juros e inflação voltaram às primeiras páginas do noticiário econômico. Notícias de que “os principais bancos centrais do mundo decidiram acelerar o ciclo de aumento da taxa de juros básica” se avolumam enquanto analistas se debruçam em antecipar os impactos macroeconômicos.
Contudo, entender os impactos macroeconômicos pode não ser tão eficaz para o grau de compreensão da realidade microeconômica, que é a que mais impacta decisões de investimentos no ambiente de pequenas e médias empresas.
Isto acontece porque a maioria dos empreendedores não consegue se financiar à mesma taxa de juros estabelecida pelo banco central (a Selic) e, portanto, o valor dos seus negócios não é afetado da mesma maneira que a economia como um todo.
Portanto, o objetivo deste artigo é esclarecer como os juros afetam o valor dos negócios, mais precisamente, o valuation.
Taxa de juros é o valor do dinheiro no tempo. Ela é devida àqueles que emprestam recursos monetários, qualquer que seja a finalidade. Isto ocorre porque, ao destinar recursos para empréstimo, a possibilidade de usá-los para consumo fica suspensa até que o dinheiro (montante) seja devolvido.
Então, quem empresta os recursos (credor) costuma cobrar um montante maior do que o emprestado, a fim de ser recompensado pelo “sacrifício” de deixar de consumir. Essa diferença entre o montante cobrado e o emprestado são os juros, e é proporcional ao valor que ocredor atribui ao tempo que seu dinheiro fica indisponível.
Enquanto os juros se referem à diferença absoluta entre montantes cobrado e emprestado, a taxa de juros é dada pela razão entre essa diferença absoluta e o montante emprestado, veja:
Agora quando a economia está muito estimulada e os preços dos produtos começam a subir rapidamente (inflação), os governos se veem aumentando a taxa de juros para voltar ao ciclo inicial.
A questão que fica, e será respondida nas próximas seções, é: qual é a taxa de juros justa?
Valuation é o cálculo do valor da sua empresa. É o valor justo hoje, caso a empresa recebesse uma proposta de venda do seu controle ou para entrada de investidores.
Para ilustrar melhor, é útil pensar o seguinte: “do que vale uma empresa?”. Toda empresa tem valor devido aos fluxos de caixa que ela pode gerar a seus acionistas: quanto maiores esses fluxos, maior o valor da empresa.
Para simplificar a explicação, pense em fluxos de caixa como uma aproximação de lucro líquido.
Portanto, o processo de valuation consiste, primeiro, em projetar quanto dinheiro um negócio pode colocar no bolso dos seus sócios/ acionistas com o tempo.
Serão considerados fatores como o risco das projeções se realizarem ou não, as condições econômicas, o mercado no qual o negócio se insere, e o mais importante – a taxa de juros.
A taxa de juros praticada na economia tem 2 efeitos bem claros no Valuation das empresas:
Com as restrições decorrentes da pandemia do Covid, os formuladores de políticas econômicas estavam conscientes de que precisariam estimular suas economias por um lado, já que, por outro lado, diversas atividades seriam descontinuadas.
A solução amplamente adotada pelos bancos centrais das principais economias do mundo foi a de abaixar a taxa de juros.
Isto consiste num estímulo monetário, que, embora tenha se revelado como uma solução apenas parcial, permitiu que consumidores e empresas tivessem acesso a crédito mais barato, impedindo que consumo e investimentos tivessem quedas mais drásticas.
Simultaneamente aos esforços para estimular a demanda com taxas de juros mais baixas, a interrupção de diversas atividades produtivas desorganizou a oferta de muitos produtos e serviços.
Não demorou para que houvesse um descasamento entre oferta e demanda, de forma que, ainda em 2020, preços começaram a subir significativamente.
O primeiro vilão da história foi o frete marítimo, pelo qual passa a maior parte do comércio internacional, aumentando quase 5 vezes ainda em 2020.
Depois, os preços de energia se elevaram, de forma mundial, com o preço do barril do petróleo atingindo recordes de 7 anos, no último trimestre de 2021; e com a estiagem, no caso do Brasil.
Em 2022, a invasão da Rússia à Ucrânia levou a uma forte escassez energética na Europa, e impactou seriamente a oferta internacional de alguns fertilizantes e cereais essenciais na produção de diversos alimentos.
O resultado é que, desde fins de 2021, se agravando a partir de 2022, as principais economias do mundo se deparam com elevações de preços (inflação) não vistas há décadas.
Novamente, os formuladores de política econômica foram chamados e, desta vez, a medida foi inversa: aumentar a taxa de juros para desincentivar gastos de maneira geral e controlar a inflação.
Ao aumentar os juros, empresas e consumidores têm menos acesso a crédito e tendem a consumir menos, com o consumo reduzindo, os preços tendem a diminuir.
No Brasil, a taxa de juros Selic saiu de 2%, em janeiro de 2021, para 13,25% atualmente, e o mercado espere que haja ainda mais uma elevação, para 13,75%.
Na sigla em inglês, WACC significa “Weighted Average Cost of Capital” – Custo Médio Ponderado de Capital na tradução. Nada mais é do que uma média ponderada entre o custo de capital dos sócios (custo de oportunidade) e o custo de capital de terceiros.
Resumidamente, esse cálculo resulta em uma taxa de juros que será utilizada para descontar os lucros futuros da empresa e trazer para o presente o valuation justo da empresa. Ou seja, o valuation é um resultado do seu WACC.
Capital de terceiros são os recursos emprestados à empresa por terceiros, enquanto capital próprio são os recursos próprios da empresa. Não há mistério em calcular o custo de capital de terceiros porque, se uma empresa pode ir a um banco e se financiar por uma taxa entre 15% e 35% – a depender de sua situação financeira.
O cálculo do custo do capital próprio é mais complexo, ele se refere ao retorno esperado pelos acionistas da empresa e é comumente calculado através do método CAPM (Capital Asset Princing Model).
Profissionais dedicam tempo considerável para chegar na sua melhor estimativa do CAPM. Basicamente, o princípio por trás do CAPM é que o custo do capital próprio deve ser a taxa de juros menos arriscada que o investidor pode ganhar, acrescida de um prêmio de risco que é tão grande quanto a sensibilidade do negócio à economia.
Quanto maior o folego financeiro da empresa para passar pelas mais diversas circunstâncias, e quanto mais seus produtos forem indispensáveis aos consumidores, menor é a sensibilidade ao mercado, menor é o prêmio de risco e menor é o custo de capital próprio.
Com o WACC em mãos, os investidores sabem o mínimo que a empresa precisa render, em relação ao que foi investido, para que tanto os credores terceiros, quanto os acionistas, sejam satisfatoriamente remunerados.
Portanto, pode-se dizer que o WACC é a taxa de juros – o custo do dinheiro no tempo – mais apropriada para se aplicar na empresa.
Talvez, ao ler nossa explicação sobre valuation, tenha ficado a dúvida de como calcular o valor dos fluxos de dinheiro (caixa) projetados para a empresa.
Os fluxos de caixa que a empresa irá gerar ao longo do tempo são distribuídos em diferentes momentos do futuro. Ora, ninguém espera que um fluxo de caixa esperado para daqui a 10 anos valha o mesmo que um esperado para o mês que vem. Fluxos de caixa também têm valor no tempo.
Sabendo que os juros são o preço do dinheiro no tempo, que o WACC é a taxa de juros mais apropriada a se aplicar numa empresa, e como as taxas de juros variam, temos a faca e o queijo na mão para responder à pergunta que batiza a seção.
Para poder equipara o valor de fluxos de caixa projetados para ocorrer em diferentes momentos do futuro, precisa-se calcular o valor presente de cada fluxo de caixa – ou seja, o quanto vale, hoje, o dinheiro que se espera receber no futuro.
O conceito inverso ajuda na compreensão: o valor futuro de um fluxo de caixa é o quanto esse fluxo de caixa valerá no futuro. Digamos, por exemplo, que a empresa gerou R$ 1.000,00 de lucro e que consegue aplicar esse dinheiro a uma taxa de juros de 20% ao ano. Daqui a um ano, o valor (futuro) desses R$ 1.000,00 será de 1.000 x 1,2 (R$ 1.200,00).
Para o valor presente, em vez de multiplicarmos o fluxo de caixa pela taxa de juros, nós dividimos. Agora, imagine que, daqui há 1 ano, a empresa lucrará R$ 1.200,00, e que o WACC da empresa seja 20% – logo, o valor hoje desses R$ 1.200,00 é 1.200/1+20% (R$ 1.000,00)
Ao aumentar a taxa de juros da economia, o custo de capital de terceiros aumenta, pois os credores passam a cobrar taxas maiores, e o custo de capital próprio aumenta também, porque a taxa de juros menos arriscada da economia aumenta, de forma que os investidores passam a cobrar retornos maiores pelo excesso de risco que estão incorrendo ao investir na empresa em vez de na taxa menos arriscada da economia.
Assim, ao aumentar a taxa de juros, o WACC das empresas aumenta. Quando o WACC aumenta, o valor presente dos seus fluxos de caixa futuros diminui.
No exemplo acima, podemos ver que, se o WACC fosse 30%, o valor presente dos R$ 1.200,00 seria R$ 923,07. Por outro lado, se o WACC fosse 10%, o valor presente seria R$ 1.090,90.
Esse é um assunto financeiramente bem complexo, mas que pode ser resumido a:
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