O Fluxo de Caixa Descontado, também conhecido como DCF (Discounted Cash Flow), é uma metodologia muito importante para investidores e empresários na hora de calcular o Valuation de uma empresa, e é de longe a mais utilizada por profissionais do mercado.
E nesse artigo vamos explicar como fazer um valuation por fluxo de caixa descontado de uma empresa, seja ela uma empresa enorme aberta na bolsa de valores, ou seja ela um pequeno ou médio negócio.
Lembrando que essa metodologia é apenas uma dentre diversas outras para estimar o valor justo de empresas, que você pode conferir nesse artigo.
Nós mesmos da StartupHero, já realizamos o relatório de Valuation de mais de 300 pequenas e médias empresas no Brasil utilizando esse método, justamente porque ele observa o aspecto mais importante na hora de analisar um negócio: a geração de lucro futuro e o valor do dinheiro ao longo do tempo.
Então vamos para o passo a passo:
Para entender o conceito dessa metodologia financeira, você primeiro precisa entender que o maior valor de uma empresa está no seu desempenho futuro, e não no seu passado ou no presente.
Mais precisamente, o valor de uma empresa está em quanto ela vai conseguir gerar de caixa ao longo dos anos, ou seja, o quanto os sócios da empresa vão colocar no bolso de lucro.
Então o valuation por Fluxo de Caixa Descontado nada mais é do que projetar os “Lucros livres” futuros da empresa para os próximos anos, 1, 3, 5, 10 anos…
Só que os lucros projetados para uma empresa realizar daqui a 10 anos não podem ser levado totalmente em consideração, não é mesmo?
Afinal de contas, existem muitos riscos envolvidos: e se a empresa quebrar, surgirem novos concorrentes, mudarem os fornecedores, ou mesmo se a empresa não atingir o lucro previsto… Muitas pessoas até brincam que a única certeza que existe, é que os números projetados estão errados.
Então o que o Fluxo de Caixa Descontado faz para tornar esse cálculo do valor da empresa mais equilibrado, é descontar esses valores de lucros projetados no futuro por uma taxa de desconto, como se fosse uma taxa de juros.
Você concorda que R$ 100 reais hoje não equivalem a R$ 100 daqui a um ano, correto? O dinheiro naturalmente perde valor ao longo do tempo, e é isso que o Fluxo de Caixa Descontado leva em conta.
Resumindo a técnica do Fluxo de Caixa Descontado: você projeta a geração de caixa futura da empresa para os próximos anos e desconta esses valores por meio de uma taxa de desconto, e esse é o seu Valuation, ou seja, o valor de mercado justo de uma empresa.
A segunda etapa é:
Essa é a hora que você vai exercitar uma futurologia, ou seja, tentar prever qual vai ser a receita, os custos, despesas e lucro líquido, que são resultados financeiros importantes para calcular a geração de caixa futura da empresa.
E existem 2 formas de fazer isso, Uma que é simples e rápida, e outra que mais complexa, porém mais precisa.
Para calcular a geração de caixa de forma simples e rápida, basta você estimar qual vai ser a receita e lucro líquido da empresa para os próximos anos. Recomendamos que você faça uma projeção entre 3 a 7 anos, pois mais do que isso começa a ficar muito longe para realizar previsões.
Para estimar quais vão ser as receitas da empresa, olhe para o passado, e tente enxergar quais são as perspectivas futuras. A empresa cresceu muito nos últimos anos ou se manteve estável? O mercado está em crescimento, declínio ou estabilidade? Como é a mentalidade dos sócios da empresa com relação a crescer ainda mais a empresa?
Todos esses fatores podem impactar a projeção de receita que você imagina que a empresa possa ter nos próximos anos. Use o bom senso e faça uma projeção de receita bruta realística.
Vamos usar um exemplo mais concreto. olha o resultado dessa Padaria, que faturou R$ 504 mil nos últimos 12 meses.
Se você considerar que a empresa está em um momento de estabilidade, podemos estimar uma ascensão bem moderada ano após ano, que vai fazer sentido com o porte e setor da empresa. Ou seja, é um resultado bem em linha com a realidade.
Então olha essa projeção de receita da padaria para os anos 1, 2 e 3:
Agora que estimamos a receita, vamos estimar também qual vai ser o lucro líquido da padaria nos anos 1, 2 e 3, levando em conta, que o lucro líquido nos últimos 12 meses foi de 137 mil reais.
Mas como estimar qual vai ser o lucro da empresa nos próximos anos? Bom, uma forma simples de estimar esses valores, é vendo qual é a margem líquida histórica dela, ou seja, para cada real faturado, o quanto a empresa teve de lucro líquido?
Como nos últimos meses esse valor foi de cerca de 27%, podemos estimar que esse valor vai ficar em torno disso nos próximos anos. Vamos completar então:
Agora que você já tem a sua projeção financeira simples pronta, parabéns, essa foi a primeira etapa, e uma das mais importantes na hora de fazer o Fluxo de Caixa Descontado.
E se você busca fazer o cálculo de um fluxo de caixa de uma empresa maior, que tem demonstrativos financeiros mais complexos, você ainda precisa ter um trabalho extra.
Não basta você pegar o lucro líquido de uma empresa e dizer que essa foi exatamente a geração de caixa de uma empresa. Você na verdade precisa fazer alguns ajustes:
E aí sim você vai ter um resultado que mede os “fluxos de caixas livres” que são gerados pela sua empresa. Fica mais ou menos assim:
O que nós fizemos é basicamente adicionar e remover do Lucro Líquido, algumas linhas financeiras que impactam na geração de caixa da empresa, corrigindo assim o valor do lucro líquido para fluxos de caixa livres, que estão ali na última linha.
E essa vai ser a sua geração de caixa futura da empresa, que você utilizará para o cálculo do Fluxo de Caixa descontado.
E esses são os valores que vamos utilizar daqui para frente em nosso exemplo.
Como falamos anteriormente, a taxa de desconto nada mais é do que o valor do dinheiro ao longo do tempo, como se fosse uma taxa de juros, que vai ser utilizada pra descontar a geração de caixa futuro que você acabou de estimar.
Mais precisamente, a taxa de desconto é a taxa mínima de retorno anual esperado pelos donos do negócio, para que valha a pena você continuar sendo dono da empresa.
Nada mais é do que o custo de oportunidade dos sócios da empresa: quanto mais arriscado for o negócio, maior vai ser a taxa de desconto, e quanto menos arriscado for o negócio, menor será a taxa de desconto.
Se você me diz que vai utilizar uma taxa de desconto de 2% a.a. para fazer um valuation de uma empresa, você está maluco. Afinal de contas, para ter um retorno de 2% a.a., basta investir em algum título de renda fixa e ficar parado esperando o dinheiro render, sem ter que se arriscar sendo sócio de uma empresa.
Da mesma forma, se você me diz que vai utilizar uma taxa de desconto de 80% a.a., você também está maluco. Afinal de contas, se você espera que um negócio te dê um desempenho constante de 80% a.a., isso ou quer dizer que você está investindo em um negócio extremamente arriscado, ou você simplesmente não conseguiu calcular bem o risco do negócio.
Então se a taxa está entre 2% a 80% a.a., qual é o valor correto?
Para você estimar essa taxa de desconto, as metodologias mais indicadas são o CAPM e WACC, onde você vai precisar coletar diversas variáveis específicas, como correlação do setor com o mercado (também chamado de beta), estimar o nível de endividamento do negócio, achar o retorno de ativos do mercado, estágio de amadurecimento da empresa…
Em um artigo futuro nós vamos ensinar como calcular exatamente essa taxa, mas já adiantando, ela geralmente vai ficar entre 10% a 30% dependendo do modelo e tamanho do negócio.
Para facilitar o exemplo que estamos fazendo, vamos utilizar a taxa de desconto de 20%, que é bem próxima do valor que seria utilizado para uma empresa semelhante (pequenas padarias) na vida real.
E agora que temos uma projeção de geração de caixa futuro, e uma taxa de desconto, temos tudo para fazer nosso valuation, correto?
Não! Ainda falta um último detalhe técnico, chamado de perpetuidade.
Apesar de medirmos apenas 3 anos nessa projeção financeira, não dá pra assumir que o valor da empresa vai ser a geração de caixas livres apenas durante esse tempo, correto?
Afinal de contas, isso indicaria que a empresa simplesmente deixaria de existir após 3 anos, o que na maioria dos casos não é verdade.
Mas ao mesmo tempo, também não dá para fazer uma projeção financeira para 100, 200, infinitos anos, porque não temos uma bola de cristal e nem tempo para isso.
Então o que a gente faz nesse caso é calcular o que chamamos de perpetuidade, ou seja, um valor que vá representar o intervalo entre o ano 4 e o infinito, uma aproximação.
A primeira variável que precisa ser estimada, é o crescimento anual da geração de fluxos de caixa que a empresa vai ter na perpetuidade. Ou seja, quanto ela vai crescer em termos de geração de caixas livres ano após ano, nos anos que sucedem a projeção de 3 anos que fizemos anteriormente.
Como estamos falando de um intervalo infinito, por mais que seja uma empresa com ampla capacidade de crescimento, precisamos estipular um valor baixo (abaixo do crescimento real do PIB do país idealmente).
Na média, é um valor que fica entre 2% e 3%. Vamos utilizar 2% nesse exemplo.
Depois disso, você vai pegar a geração de caixa do último ano da projeção financeira, o ano 3, aplicar o crescimento de 2% nele (representado na fórmula por 1+ g), e dividir pela diferença entre a taxa de desconto e o crescimento na perpetuidade:
Então se no ano 3 a geração de caixa é de 148.500, aplicamos um crescimento nele de 2%, e dividimos pela diferença de 20% para 2%, ou seja, taxa de desconto menos a perpetuidade.
Dessa forma, chegamos a um valor de geração de caixa na perpetuidade que é de aproximadamente 841.500.
Como podemos ver na imagem, a melhor forma de você tratar a perpetuidade no seu cálculo, é como se ela fosse o último ano da sua projeção financeira:
Agora que temos a projeção de Fluxos de Caixas livres, Taxa de Desconto e valor da perpetuidade, podemos partir para o cálculo de valor de mercado da empresa através do Fluxo de Caixa Descontado.
O desafio desse passo é: aplicar a taxa de desconto nos fluxos de caixas livres, trazer esses valores para o presente e somá-los.
Para isso, utilizamos a seguinte fórmula:
Sim, totalmente confuso né? Calma que vamos explicar esse alfabeto estranho.
O VALUATION é igual à soma dos FLUXOS DE CAIXA de cada ano, divididos por 1 + TAXA DE DESCONTO elevado ao PERÍODO. Se for no ano 1, é elevado a 1; ano 2 elevado a 2, e por aí vai. Lembrando que a perpetuidade também deve ser descontada, como se fosse uma geração de caixa realizada no ano 4.
Ou seja, quanto maior for o período que está sendo analisado, maior vai ser o desconto, pois vai estar sendo dividido por um número maior. Vamos ver como que fica isso na planilha:
Cada uma dessas células amarelas associadas ao ano 1, 2, 3 e perpetuidade foram descontados por taxas diferentes (crescem ano após ano).
Olhando esse gráfico, podemos entender melhor que por mais que a geração de caixa da empresa esteja aumentando ano após ano na sua projeção, o desconto realizado ano após ano também aumenta, diminuindo cada vez mais o valor presente dos fluxos de caixas livres futuros:
Ou seja, a geração de fluxos de caixa descontado na prática só diminui por causa da taxa de desconto que aumenta com o passar dos anos, com exceção da perpetuidade, que é um cálculo feito à parte.
E como podemos ver na fórmula, depois que você desconta todos os anos corretamente, basta você fazer o somatório de todos os fluxos de caixa descontados, e você vai chegar ao Valuation da empresa por meio dessa técnica, que foi de R$ 713.073.
Por último, bastaria somar a esse resultado seus equivalentes de caixa (como contas bancárias e investimentos de alta liquidez) e ativos não operacionais (ativos de baixa liquidez, que não impactam na operação da empresa).
Precisamos te deixar alguns disclaimers e informações importantes na hora de você calcular o valor da sua empresa.
A primeira coisa que precisa ser falada, é que o Valuation por Fluxo de Caixa Descontado nada mais é do que uma opinião. Você pode colocar 10 mil analistas diferentes para avaliarem a mesma empresa, e você vai ter 10 mil valuations diferentes.
Isso acontece porque qualquer diferença nas projeções financeiras, premissas utilizadas no cálculo da taxa de desconto ou crescimento na perpetuidade, vai afetar o valor final da empresa.
Por esses motivos, caso você precise realizar o Valuation de uma empresa para uma situação importante como venda, entrada ou saída de sócios, aporte de investidores ou até inventário ou comunhão de bens, a nossa principal recomendação é que busque por um avaliador de empresas isento e reconhecido nacionalmente.
Isso vai te ajudar a trazer o valor mais justo e próximo da realidade da sua empresa, assim como diminuir eventuais conflitos que possam acontecer. Afinal de contas, é uma análise imparcial, assinada por especialistas.
A StartupHero auxilia pequenas e médias empresas a descobrirem o seu valor justo de mercado, de forma rápida, acessível e totalmente online.
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2 Comments
muito bom o “artigo” parabéns
Estou completamente empolgada com o assunto após ler esse artigo. Belo começo de estudos para o meu MBA EM FINANÇAS. PARABÉNS E OBRIGADA!