Existem diversas formas de se calcular o valor de uma empresa, e uma delas é o valuation pelo Método Venture Capital.
Além disso, podemos também utilizar diversas técnicas como o Fluxo de Caixa Descontado, Abordagem de Múltiplos e muitas outras.
Agora, quando falamos de empresas com grande potencial de crescimento, como as startups, uma técnica se destaca: O Venture Capital Method.
Como o nome já sugere, esse método foi desenvolvido e é principalmente aplicado na indústria de Venture Capital (capital de risco). Ou seja, na indústria de fundos que se especializam em investir em empresas inovadoras.
Então, para entendermos a dinâmica do método, nada melhor que entender um pouco sobre a dinâmica dessa indústria, pois a técnica ficará muito intuitiva depois de esclarecido o racional por trás da sua aplicação.
O termo “Venture” remonta da palavra “adventura” do latim, cujo significado foi evoluindo de “aquilo que ocorre por acaso, ou sorte” (sec. XI), para “empreendimento perigoso” (sec. XIII) e, por fim, “ocorrência notável na vida de alguém” (sec. XVI).
O termo e os seus significados históricos lembram muito o que entendemos como aventura, e é muito semelhante a adventure (aventura em inglês). Direto para o mundo das finanças, Venture Capital significa capital de risco, pois o investidor assume o risco do empreendimento junto ao empreendedor.
Por assim dizer, no universo de Venture Capital, o investidor embarca na mesma aventura do empreendedor. Como assim? Na maioria das vezes, bons negócios começam com boas ideias, mas, nem sempre boas ideias começam com bons recursos.
Para transformar uma boa ideia em um empreendimento, além de recursos financeiros, são necessárias habilidades de gestão, vendas e até habilidade sociais (ou networking).
Assim, nessa história, podemos resumir o papel do empreendedor ou da empreendedora como aquela pessoa que vai gerar a ideia, elaborá-la e reunir os recursos necessários para pô-la em prática; por outro lado, o papel do investidor não se resume a prover os recursos financeiros, mas, também a participar do negócio, agregando seus conhecimentos técnicos e sua rede de contatos.
Por esta razão, diz-se que o investidor de Venture Capital assume o risco do negócio. Por conseguinte, Venture Capital significa “capital de risco” porque, assim como na bolsa de valores, um investidor pode perder todo seu capital investido, mas, também seu tempo e esforço.
O que motiva o investidor a aplicar seu dinheiro, seu tempo e sua energia num empreendimento incipiente e de alto risco?
A possibilidade de retornos enormes! Retornos maiores do que conseguiriam investindo em uma empresa tradicional da bolsa, ou emprestando dinheiro ao governo.
Acontece que nem todas as boas ideias geram grandes retornos. Um negócio que comece de uma ideia promissora pode não ter um desfecho promissor, levando mais tempo que o esperado para amadurecer, ou se consolidando em uma posição mediana, ou até mesmo falindo.
Por outro lado, aquele investidor que colocar seu dinheiro no que virá a ser a próxima startup Unicórnio terá seu dinheiro multiplicado por muitas vezes. É o que aconteceu com investidores do Uber, Ifood e outras startups de sucesso.
Dessa dicotomia entre a possibilidade de um capital de risco (Venture Capital) ser extremamente lucrativo, ou ser completamente reduzido a zero, surge um custo de oportunidade: todo investidor de Venture Capital pode estar deixando de para trás a chance de investir em um próximo Uber.
Naturalmente, por estarem correndo esse risco, investidores de Venture Capital cobrariam garantias concretas dos empreendedores se estes tivessem algum centavo para lhes assegurar, mas, tudo o que empreendedores de um novo negócio têm a oferecer é o direito a uma parte da propriedade deste negócio (também chamado de equity) – que pode valer de zero a milhões no futuro.
Os investidores de Venture Capital, então, recorrem a duas soluções principais:
(1ª) não colocam todos seus ovos em uma só cesta, mas diversificam;
(2ª) buscam um valuation justo para cada empresa em que escolhem investir.
Os investidores de Venture Capital de fato embolsam o dinheiro, que ganham em seus investimentos bem-sucedidos, quando a empresa em questão é “vendida”.
Pode ser a venda para uma empresa maior – no caso de uma aquisição estratégica –; pode ser a venda na bolsa de valores – no caso de uma oferta pública inicial (ou IPO na sigla em inglês); ou pode ser a venda para outro grupo de investidores.
Seja como for, uma parte suficientemente grande da empresa deve estar envolvida na negociação, para que haja demanda para a participação que o investidor está ofertando.
Esses eventos envolvem suntuosas quantias, novos contratos, novos investidores etc. Portanto, um novo empreendimento deve realmente crescer muito para efetivamente dar lucro a seus investidores iniciais.
Se 1 em cada 3 empreendimentos crescessem assim, viveríamos em um mundo mais próspero, mas, a verdade é que 1 em cada 10 ou 20 empreendimentos – já pré-selecionados – dão certo a esse ponto.
Portanto, é natural que um investidor de Venture Capital não destine seus investimentos a uma só empresa, mas o fracione entre 5 a 10 empreendimentos, pelo menos.
Digamos que 1 empreendimento dê certo, crescendo 5 vezes em 5 anos, e outros 4 cresçam igual à inflação do Brasil (25% em 5 anos). O retorno médio anual desse investidor será 11% ao ano.
Não está mal. Mas, será que esse investidor será atraído considerando que pode ganhar 13% ao ano com muito menos risco e esforço?
A primeira coisa que precisamos entender ao calcular o valuation pelo método Venture Capital é como essa técnica funciona. Precisamos pensar na teoria, antes da prática.
Basicamente, o Valuation utilizando essa técnica tenta estimar por quanto uma empresa pode ser vendida no futuro.
Ou seja, se daqui a 5 anos uma empresa valerá R$ 50 milhões, qual é o valor justo para se pagar nela hoje?
Uma forma mais fácil de assimilar é comparar esse método com as obras de artes. Se alguém tenta te vender um quadro hoje, e você sabe que no futuro esse quadro poderá valer milhões, quanto estaria disposta a pagar?
Então, o que o Venture Capital Method faz é estimar dois tipos de valuations para uma empresa: O valor futuro, que chamamos de valor potencial, e o valor presente que chamamos apenas de Valuation.
Então, para calcular o Valuation de uma empresa utilizando o Venture Capital Method você precisa conhecer os dois elementos principais dessa técnica: Hurdle Rate e o Valor potencial.
A Hurdle Rate no método de valuation Venture Capital nada mais é do que a taxa mínima de atratividade do investidor, ou seja, o valor mínimo que o investidor espera ter de retorno para considerar uma empresa um bom investimento.
Como existem diversas opções de investimento no mercado, é comum que para empresas de alto crescimento e com risco elevado, os investidores coloquem uma Hurdle Rate que supere os investimentos tradicionais.
Mais especificamente, investidores usam a Hurdle Rate como uma taxa de desconto sobre o valuation futuro da empresa.
Imagine que uma investidora, a Clarice, tenha comprado essas 5 empresas em 2017, uma delas por R$ 1 milhão, e as demais por R$ 4 milhões cada. Para tal, Clarice desembolsou R$ 17 milhões.
Imagine também que ele esperava que as 5 empresas valessem R$ 7 milhões cada em 2022, de forma que ela receberia R$ 35 milhões de volta. Assim, sua expectativa de retorno era de 19% ao ano em média.
Em 2022, a Clarice consegue vender as 5 empresas por R$ 5 milhões cada, obtendo um retorno efetivo de 11% a.a. em média. Com efeito, Clarice recebeu R$ 25 milhões de volta.
Se a nossa investidora tivesse colocado o dinheiro dela em ativos de renda fixa, por exemplo, poderia ter ganhado 13% a.a. com pouco esforço e baixíssimo risco.
E estamos falando nosso exemplo de empresas que conseguiram ser vendidas, o que não acontece na maioria dos casos. Como dissemos anteriormente, menos de 1 a cada 10 empreendimentos consegue ter sucesso, o que faz com que o risco dos investimentos em Venture Capital seja elevado.
É por isso, que para os investidores de Venture Capital, uma Hurdle Rate tradicionalmente fica entre 30% e 50%, que varia com o mercado da empresa, com o modelo de negócios e o estágio que se encontra.
A lição é que a diversificação fará com que o retorno muito elevado dos poucos empreendimentos que dão certo consiga suprir toda a perda que o investidor teve nas outras empresas.
E como poucos empreendimentos dão muito certo, uma taxa mínima de atratividade (hurdle rate) elevada será cobrada de cada um deles, em média, para que nenhum seja subestimado, ou superestimado – pois nunca se sabe qual será o próximo Unicórnio, ou qual será a próxima falência.
O segundo ponto principal do Venture Capital Method, é o valor potencial de uma empresa.
Como dito anteriormente, o valor potencial nada mais é do que quanto uma empresa poderá valer daqui a alguns anos.
E é aqui que entram dois elementos bem importantes: O múltiplo do setor e o tempo de retorno.
Para saber quanto uma empresa vai valer no futuro, primeiro precisamos saber quando será esse futuro. Ou seja, se eu colocar dinheiro nessa empresa agora, quando poderei ter retorno.
Chegar nessa conclusão envolve uma série de análises. Precisamos analisar o setor da empresa, transações que aconteceram com empresas semelhantes, o histórico do negócio, entre outros fatores.
Em relação ao tempo de retorno, é comum que o prazo nessa metodologia fique entre 3 a 6 anos. Em outras palavras, os investidores de capital de risco costumam esperar de 3 a 6 anos para o exit (saída) ocorrer, a partir do investimento.
O racional desse tempo (de 3 a 6 anos) reside no fato de que os investidores da indústria de Venture Capital não estão procurando empresas consolidadas, mas empresas “jovens”, das quais não se espera algum faturamento ou lucro tão relevante nos primeiros anos.
Assim, o método de Venture Capital abstrai os primeiros anos do empreendimento, até que o faturamento ou o lucro tenham uma dimensão relevante o suficiente para atrair uma grande negociação financeira de venda/ aquisição.
De forma complementar, outro elemento considerado pelo investidor na definição do tempo esperado é quanto tempo, em média, uma empresa no mesmo mercado demora para ganhar escala.
O segundo elemento para calcular o valor potencial de uma empresa é o Múltiplo do setor. Já falamos bastante sobre múltiplos em um blog anterior, mas resumidamente, um múltiplo pode ser entendido como um multiplicador de um fluxo financeiro.
Por exemplo, quando se diz que uma empresa que lucra R$ 100 mil por ano está sendo negociada a um valuation de R$ 800 mil, estamos dizendo que ela está sendo negociada a um múltiplo de 8x lucro.
É importante que o múltiplo seja adequado. Este é outro trabalho que o analista deve ter, pois o múltiplo é, no fim da discussão, originado do valor efetivo o qual outros investidores estão dispostos a pagar pelo empreendimento no futuro.
Portanto, o analista deve filtrar bem, entre centenas de empresas negociadas, aquelas mais semelhantes em estágio e setor; bem como se há realmente um “mercado” negociando “pares” daquela empresa.
Agora já temos tudo que precisamos para calcular o nosso Valor Potencial e podemos calcular o Venture Capital Method.
A primeira coisa que um analista deve fazer para utilizar essa metodologia é fazer uma projeção cuidadosa do fluxo financeiro (vamos dizer o lucro, pois ele é o mais utilizado) para o ano do potencial retorno.
Com a projeção em mãos, o analista chega ao valor potencial multiplicando o lucro pelo múltiplo de lucro do setor.
Digamos, então, que uma startup de serviços financeiros fature R$ 100.000/ ano atualmente, lucrando R$ 20.000/ ano, o que equivale a uma margem líquida de 20%.
Vamos supor que ela vá crescer 20 vezes em 5 anos, chegando a uma receita de R$ 2 milhões/ ano, e que ela vai ter ganhos de escala que lhe proporcionarão uma margem de lucro de 25%, dando um lucro estimado de R$ 500.000 no ano 5.
Um múltiplo de lucro razoável para uma startup de serviços financeiros está entre, digamos, entre 4 e 10 vezes lucro a depender do tipo do serviço. Vamos utilizar 7 vezes lucro.
Assim, o valor potencial da startup de serviços financeiros é de R$ 3,5 milhões.
Agora devemos aplicar a Hurdle rate como uma taxa de desconto para esse valor potencial, como uma forma de trazer esse valor para o presente, considerando a disposição dos investidores potenciais, bem como o risco das projeções não se realizarem.
Supondo que o nosso negócio está em um estágio inicial, vamos aplicar uma Hurdle Rate de 45% por exemplo.
A taxa de desconto tem um impacto exponencial, visto que é elevada ao número de anos que vai levar até a venda da empresa, como podemos ver na fórmula do método abaixo:
Assim, o Venture Capital Method atesta que o valuation dessa empresa é de R$ 546.044.
Em uma primeira impressão, o Venture Capital Method pode parecer aplicar uma taxa de desconto muito grande sobre o que, sobretudo do ponto de vista do empreendedor, pode ser um negócio muito rentável.
De fato, vimos que a própria dinâmica do mercado de Venture Capital suscita uma taxa de desconto substancialmente maior do que a taxa de juros do capital de empréstimos, ou o retorno esperado do mercado de ações.
Podemos dizer que o mercado de Venture Capital surge de uma lacuna do mercado de capitais, tanto por parte dos participantes privados tradicionais, quanto por parte do setor público; a lacuna de que essas instituições muitas vezes não dão atenção devida a um contingente adequado de projetos.
Investidores de Venture Capital preenchem esse espaço com seus recursos e tempo, e não fazem isto de graça.
Por outro lado, o método de Venture Capital dá, ao empreendedor, a vantagem de os primeiros anos de desempenho mais modesto serem abstraídos no cálculo do valuation, bem com o uso de múltiplos de mercado aplicados a empresas mais maduras.
Os termos do negócio parecem satisfazer os dois lados, como a evidencia o gráfico abaixo.
Nele, vemos que os investimentos em Venture Capital no Brasil aumentaram várias vezes na última década. Por outro lado, grande parte do crescimento se concentrou nos últimos 4 anos, demonstrando ser um mercado relativamente jovem e cheio de potencial no Brasil.
As técnicas de valuation mostram qual seria o “preço justo” da sua empresa caso você queira vender ou comprar um negócio, receber investidores ou novos sócios, ou mesmo outros processos como divórcio (comunhão de bens) e inventário.
O problema é que realizar o Valuation da sua própria empresa traz alguns problemas relacionados ao viés da avaliação e credibilidade em relação ao seu resultado.
Por conta disso, é comum que empreendedores contratem consultorias especializadas para o Valuation do empreendimento.
Aqui na StartupHero analisamos detalhadamente cada perfil de empresa e a partir desta avaliação, nossos analistas decidem quais métodos usarão para efetuar o cálculo do valuation.
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